Num caminho sem saída não se pode voltar atrás

Tenho lido tanta coisa desagradável, nos últimos tempos, na comunicação social que quase não dá vontade de ler nem ouvir mais notícias.

O flagelo que cada vez mais atormenta a Igreja tornou-se regozijo de todos os que de fora criticam e se sentem justificados, como se de alguma forma quisessem que a Igreja pague por todo o mal que lhes acontece ou que existe no mundo.

Ler os comentários feitos pelos que lêem os jornais na Internet provoca uma enorme revolta interior... principalmente por perceber que são feitos por pessoas que não têm Deus no seu coração. Uns vêm de peito feito afirmar com toda a certeza que Deus não existe, outros vêm pôr em causa a Sua existência baseando-se nos pecados dos homens...
São pessoas sem qualquer rigor nem coerência e que vão com a moda. A moda dita que ter fé é característica de pessoas diminuídas, iletradas ou enjeitadas, mas esses colossos da sabedoria, gurus de trazer por casa, são, na sua maioria, pobres almas que pouco sucesso têm na vida e que não se conseguem realizar nem a nível profissional nem pessoal e nem se questionam porquê. Acreditam que viver longe de Deus é a única forma de se sentirem livres, ou pior, vão mais longe e dizem que não acreditar é a verdadeira liberdade.

Pobres ignorantes... vivem no engano de uma liberdade que os aprisiona na eterna dúvida...

Acusam a Igreja dos pecados dos padres... acusam-na de esconder, abafar, ocultar provas e proteger os culpados... como se fosse por vontade da Igreja que todos esses crimes aconteceram.
A cada um pedia que olhasse para si e para a sua família. Que levantasse o dedo acusador todo aquele que nunca teve um familiar que se comportasse incorrectamente, que enveredasse por caminhos mais tortuosos, que até mesmo envergonhasse o seu próprio nome de família.
Será que andariam na praça pública a julgar ou a dizer mal deles? Provavelmente alguns andariam, pois julgam-se perfeitos e donos de toda a moral e verdade, mas muitos não o fariam. Não teriam gosto nenhum em ver o seu nome julgado pelo que outros fizeram. A sua família pagaria pelo erro de alguns... não é justo, pois não? Não é, claro que não. Agora, julgar a Igreja todos podemos porque tem as costas largas e porque dá jeito ter um bode expiatório para tudo o que de mal acontece no mundo.

Alegra-me ver que ainda há muita gente que não se deixa abalar por estes tumultos, gente cuja fé e perseverança se fixam em Jesus Cristo, se fundamentam no amor do Pai, na fidelidade do Filho e na força do Espírito.

Ser Cristão não é sinónimo de resignação. Deus não se resigna com a nossa pobreza ou infelicidade. Vem sempre ao nosso encontro correndo velozmente, não olha a meios para nos defender, protege-nos com todas as suas forças e mesmo assim quando precisa de nós, tantas vezes encontra o nosso coração fechado e o nosso olhar desviado. Qualquer um de nós desistiria de alguém que nos fizesse isso, mas Deus não, continua a velar por nós dia e noite. Mesmo quando o negamos, mesmo quando o ferimos, mesmo quando em Seu nome ou contra Ele fazemos mal aos nossos irmãos.

Todos nós erramos... caímos... desviamo-nos do caminho certo, perdemo-nos... mas temos sempre a possibilidade de nos emendar. Há, efectivamente, muitas coisas que não podem ser corrigidas, algumas até que podemos passar a vida toda a redimir-nos e nunca conseguir apagar.... Mas existe sempre a possibilidade de mudarmos o futuro que se escreverá sobre nós. Ninguém diga que “burro velho não aprende línguas” porque ninguém é absolutamente incapaz de fazer bem aquilo que fez mal toda a vida. Com força de vontade, coragem de espírito e determinação podemos ser aquilo que verdadeiramente queremos.

Mas não podemos acreditar que Deus nos abandonou. É confiando nas suas graças e aceitando com naturalidade aquilo que de bom ou menos bom Ele nos dá que alcançamos a verdadeira paz de espírito.

Encontramos Deus nos lugares mais improváveis e temos de estar atentos. Muitas vezes é precisamente quando entramos num beco sem saída que Ele se nos revela.
Deus na Sua grandeza quer-nos mostrar que podemos seguir em frente, mesmo quando o sinal diz que não tem saída. Deus fez os filhos de Israel atravessarem um deserto interminável até à Terra Prometida, derrubando todas as tribos que se lhes interpunham, derrubou as muralhas de Jerico, fê-los príncipes do Seu reino e sacerdotes do Seu templo. De tal modo os tornou temíveis nas dificuldades que atormentava o coração dos outros povos com a pergunta: “que Deus é este que combate pelo Seu povo?”.

E nós não aprendemos nada. Não nos perguntamos que Deus é este que nos encoraja e nos anima nas dificuldades da vida. Que nos faz surgir um milagre quando todas as esperanças se desvanecem.... Nas vitórias julgamo-nos invencíveis e esquecemos aquele que lutou ao nosso lado para alcançá-la. Nas derrotas sabemos virar os olhos ao céu e perguntar-Lhe que mal Lhe fizemos. Qualquer outra pessoa nos mandaria dar uma curva e na próxima vez ficava impávido e sereno a ver-nos afundar... mas Deus não... quase que inocentemente lá vem mais uma e outra vez atravessar-se por nós.
Diria que, só mesmo, a imensa bondade de Deus pode suportar tão grande ingratidão do Seu povo.
Não somos dignos deste Deus que nos suporta... não merecemos as Suas graças...
Gostaria de propor a todos esses que se aproveitam dos escândalos dos últimos tempos a fazer este exame de consciência. Que tentassem ser tão bons como Ele antes de falarem da Sua Igreja.

Jesus Cristo pediu a Pedro, que o negou 3 vezes no momento mais difícil da Sua vida, “que apascentasse as Suas ovelhas”. Ele não olhou ao tamanho do seu pecado, mas na Sua imensa bondade encontrou nele a fé que moveria montanhas. A fé que iluminaria aqueles que o seguissem, a fé que iria até ao coração do império que dominava o Seu povo e derrubaria os pilares que o sustentavam. Depois pediu a Saulo, que estava determinado a perseguir todos os convertidos e dizimá-los até ao último, que fosse aos confins da terra anunciar a Boa-Nova.

A quem muito se pede muito é dado e Deus retribuiu-lhes, com a eternidade, toda a sua dedicação e todo o sangue que derramaram em Seu nome. Tornou-os pilares inabaláveis da Sua Igreja e sustentou com graças e bênçãos os seus sucessores.
Com certeza, encontraram pelo caminho muitas portas fechadas, muitas ruas sem saída, muitos caminhos sem destino... mas tiveram a coragem de ir em frente, de resistir até ao último suspiro, até ao momento em que deram glória a Deus.

São exemplos estas pessoas que não foram sempre perfeitas, mas mudaram as suas estrelas e puderam no tempo que lhes restou fazer todo o bem que lhes foi possível.

É nisto que a Igreja se funda, na fragilidade humana sustentada e guiada por Deus.

Comentários

Anónimo disse…
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