O amor é eterno enquanto dura

Enquanto somos mais novos vivemos num dia as emoções de um ano. Somos capazes de nos apaixonarmos de manhã, casar à tarde e à noite já estar a pensar na vida e em tudo o que iremos perder por causa dessa paixão e todos os medos e incertezas levam-nos a querer terminar algo que nunca chegaremos a saber se teria futuro.

Somos capazes de amar incondicionalmente alguém que nos deixou com o olhar preso num interminável pôr do sol enquanto caminha junto à praia num calmo fim de tarde numa praia quase deserta que acabará por receber-nos na encosta de uma duna no final da noite...

Mas esses amores muitas vezes são destinados a ficar na areia dessas praias... são levados pelo enrolar das ondas e vivem para sempre no mar e estendem-se até ao horizonte para onde tantas vezes ficamos a olhar fixamente durante horas...

Ninguém nasce verdadeiramente livre, pois acaba sempre por se aprisionar a um grande sonho ou a um grande amor. Faz dele o seu objectivo de vida mas condena-se a uma escravidão quase perpétua. Diria que temos propensão para a dependência. Dependemos de outros para sermos felizes, dependemos de coisas para nos sentirmos confortáveis, dependemos de sentimentos para nos sentirmos vivos.

Quando vivemos alguns anos e passamos por várias experiências acabamos por nos transformar em pessoas mais cautelosas para minimizar a impetuosidade com que nos entregamos a causas, a paixões, a sonhos. As desilusões fazem parte da vida, os desgostos de amor também... e tudo isto deixa marcas, cicatrizes, às vezes ainda feridas que doem para sempre. Alguém me dizia no outro dia que não há ninguém que consiga superar um grande amor sem outro amor. Que só assim fechamos a antiga ferida.... Se calhar nem assim, diria eu.
Depois de aberta, a ferida é como uma janela. Podemos mantê-la sempre fechada, vigiá-la para que se mantenha assim. Mas algum dia, um sopro de vento mais forte ou uma pedra arremessada ou ainda o envelhecer da fechadura vai reabri-la... vai colocar a nu a nossa fragilidade e a nossa intimidade. Temos, uns mais que outros, capacidade para superar esse contratempo, acabamos, mais cedo ou mais tarde, por voltar a fechá-la... mas provavelmente não para sempre... Não enquanto existir aquele pôr do sol que nos deixa dormentes... ou aquele perfume no pescoço de outra pessoa que nos desconcerta... ou simplesmente alguém que usa uma expressão ou um riso semelhantes a algo que outrora nos foi tão familiar.

Podemos conhecer alguém em quinze dias e apaixonarmo-nos por ela. Podemos conviver com essa pessoa quinze anos e nunca conseguir dizer-lhe a verdade sobre o que sentimos.
Os amores vivem-se muitas vezes entre paragens de autocarro e bancos de jardim. Revelam-se no cruzamento dos olhares, num cumprimento mais indiscreto ou denunciado. Alguns não chegam a sair das nossas cabeças e são sonhados como ilusões atingindo a condição de platónicos quando nos privamos da possibilidade de os viver. Muitos deles durariam horas ou dias se ousássemos materializar esse desejo.

A vida ensina-nos que os oportunidades que nos são dadas devem ser aproveitadas. Antes voar, cair e incendiar-me do que nunca conhecer a sensação de voar.
Após um relacionamento todos nós precisamos do nosso «luto», daquele tempo de recolhimento e reflexão sobre tudo o que aconteceu, sobre o que correu mal e sobre as causas do insucesso. Mas a seu tempo a vida retoma o seu curso natural e quando damos por ela estamos envolvidos em pensamentos com outra pessoa e sentimos algo esquisito quando nos encontramos com ela. Cabe-nos decidir se queremos deixar quea algo aconteça...

De nada vale lamentarmo-nos, depois, se não for aquilo que pensávamos ou se não somos correspondidos como gostaríamos, porque, a não ser não estejamos no nosso perfeito juízo, não fizemos nada que não queríamos. “O amor é eterno, apenas, enquanto dura”... e não estou com isto a querer banalizar o significado da palavra AMOR que não se extingue no encantamento inicial ou nas primeiras semanas ou meses de relacionamento... é, normalmente, a última coisa a surgir entre duas pessoas e tem de ser algo absolutamente significativo na nossa vida. Mas não há problema nenhum em gostar de alguém «simplesmente» durante algum tempo. Não significa que não tenha sido importante para nós, apenas, ou deixou de fazer sentido ou então simplesmente porque não conseguimos saber se essa pessoa verdadeiramente tem lugar na nossa vida e então temos de deixar cair o nosso egoísmo e deixá-la à vontade para ser feliz com alguém que a queira mesmo ou da forma que melhor achar para si.

Umas vezes somos nós que temos de tomar esta posição, outras vezes tomam outros em relação a nós. Mas de um lado ou do outro, temos de ter o discernimento suficiente para aceitar que tudo na vida tem um fim... E vale mais perceber isso cedo do que mais tarde... a fim de que nunca nos conformemos com meios termos.
Na vida temos de lutar para sermos felizes, mas também devemos querer que aqueles que nos rodeiam estejam igualmente felizes. Não me interessa ser feliz à custa da “meia felicidade” de alguém, assim como não vou permitir que alguém o seja à custa da minha....

Fala-se muito hoje em dia do “não tem de ser tudo como eu gosto... mas convém” ou “poder podia... mas não era a mesma coisa” e é verdade!!! Nós podemos viver com uma pessoa que não amamos, podemos fazer tudo para a fazer feliz... mas vamos morrendo aos pouquinhos... vamos secando, vamos perdendo a alegria de viver os pequenos pormenores e detalhes da vida em troca de um projecto que não nos traz a felicidade total... ainda que seja estável e não nos dê muitas dores de cabeça...

Por isso é que quando me lembro daquela música que canta “amar como Jesus amou” não me vem apenas à memória a pureza do seu amor, a origem e o motivo da Sua entrega, mas como o demonstrou. De uma forma única, absoluta e acima de tudo extraordinária que é a única que sempre quis conhecer... que é sem limites nem inibições, preconceitos ou restrições. É de uma vez para sempre e incondicionalmente. Mas amar assim tem custos, pode-nos custar a própria vida. Mas de que nos vale uma vida inteira sem sentido pesado contra apenas uns anos, talvez meses, dias ou nem que sejam umas horas de verdadeira VIDA?

Nestes dias que nos aproximam dos “dias do Senhor” e depois de uns momentos de paragem na rotina que me permitiram pensar na vida sem ter os afazeres e os problemas do costume para resolver, dou por mim a olhar para as minhas últimas semanas e a questionar se estou realizado... se me sinto mesmo bem encaminhado... se tudo isto faz sentido ou não...

A vida é assim mesmo... de repente tudo está bem e no momento seguinte já nada nos satisfaz...
Mas pelo menos vivemos, o resto não importa!

Comentários

Anónimo disse…
de que nos serve viver... se não estamos vivos!?
Rita disse…
Já não vinha aqui há algum tempo...
Mas...obrigada por aquilo que escreves. Obrigada por aquilo que ensinas, pelo tanto que já aprendi contigo.
Espero que estejas bem...
Saudade!
Beijinho grande

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