«Não venci todas as vezes que lutei, mas perdi todas as vezes que deixei de lutar»

Nas últimas semanas, a frase que intitula este texto tem-me assaltado o pensamento...

Não é pela descoberta da mesma e nem mesmo pela moral que a envolve... apenas porque me faz pensar nas lutas do dia-a-dia e nos projectos do futuro... e como cada vez as forças são menos para responder a todas as responsabilidades, temos de saber muito bem onde aplicar as energias e de que forma o fazemos.

Quantas vezes partimos para algo com a sensação de que estamos a perder o nosso tempo? E depois ainda ouvimos conselhos/comentários que sustentam a mesma razão... mas por capricho ou por crença acabamos por investir tudo...?

A verdade é que poucas são as coisas que tenham resultados absolutamente garantidos. E essas coisas nós não lhes damos atenção pois não nos provocam interesse...
Por outro lado aquelas que têm insucesso praticamente garantido e provavelmente prejuízos, sejam eles leves ou não, motivam-nos de tal forma que nos empenhamos quase até à exaustão. Claro que ao longo do caminho temos de ir avaliando se continua a valer a pena e não imprimir todas as nossas capacidades desmesuradamente não parando a tempo de poupar alguma coisa de nós próprios. Mas não deixa de ser curioso que só a insatisfação nos complete, só a falta de algo que procuramos incessantemente nos mova e nos anime.

Na semana passada tivemos a sorte, o privilégio e a graça de ter, durante quase quatro dias, no nosso pais o vigário de Cristo, o sucessor de Pedro.
Apesar de tudo o que se escreveu, de todos os discursos e homilias que sua Santidade partilhou connosco, não obstante todo o simbolismo e relevância que tiveram todos os eventos e celebrações promovidos com a presença do Papa, não consigo deixar de reter uma grande conclusão: todos nós queríamos conhecê-lo.

“Afinal é muito afável e carinhoso” diziam uns, “que energia com aquela idade e que coragem para ir até junto das pessoas” admiravam outros.... estávamos todos muito enganados!
Quando há 5 anos recebemos a notícia de que era o Cardeal Joseph Ratzinger o escolhido para suceder ao Papa Peregrino, muitos caímos por terra... a tristeza de perdermos uma das personalidades mais importantes da segunda metade do século XX, aquele que conseguiu promover a paz independentemente da língua, religião ou cor política, que tinha tocado os nossos corações com o pedido de perdão pelos pecados da Igreja e que confessou o homem que o tinha tentado matar, juntava-se à desilusão de não vermos “calçar as sandálias do pescador” alguém que continuasse essa obra e que mantivesse jovem e dinâmica esta Igreja tantas vezes acusada de “velha e ultrapassada”.
Com as acusações de que a Igreja tem sido alvo, encrespámos a nossa indignação pela falta de um Papa que se levantasse, desse um murro na mesa e revolucionasse alguma coisa... Mas não... Bento XVI manteve-se impávido e sereno levando de um lado e do outro, uma e outra vez, vezes sem conta a ver vozes de vários países de grandes responsabilidades mundiais a pedirem a sua cabeça...

Eis que ele se levanta e caminha até nós... vem com aquele sorriso que nos deixa desarmados, com os braços estendidos a acolher-nos e sem cessar acena-nos como se nunca o tivéssemos ofendido. Ao vê-lo mais de perto não vemos, mas apercebemo-nos que ele deu as duas faces, sem hesitar... Carregou e continua a carregar o peso dos crimes de todos e ainda assim não desarma no que toca a defender a Igreja que os seus antecessores apascentam desde São Pedro. Como Pedro, há 2000 anos, ele hoje nos compromete como testemunhas da Ressurreição de Cristo. Somos herdeiros do legado dos apóstolos e responsáveis pelo anúncio da Boa-Nova. Co-herdeiros com Cristo do reino de Deus, não podemos simplesmente voltar a cara para o lado e continuar a vê-lo sozinho a suportar todas as injúrias que dizem contra a Igreja.

Como me disse alguém, o Espírito Santo sabia bem o que fazia naquele dia na Capela Sistina. Deus sabia, se calhar até o próprio Papa João Paulo II, que ele era a pessoa ideal para aceitar esta cruz. Não como quem recebe o reconhecimento de uma vida e que um dia chega a Chefe Máximo da Igreja Católica e finalmente é a ele que todos prestam vassalagem, mas como alguém a quem ainda muito havia a pedir e que muitos caminhos tem de percorrer até que, tal como a Elias, Deus lhe envie o carro de fogo puxado por cavalos de fogo para o levar directamente ao Céu.

Mas Deus também não o deixou órfão! Ele tem-nos todos ao seu redor e daqui em diante, com toda a certeza, mais uma nação inteira pronta a acudi-lo! Nós provavelmente não vamos vencer, por mais que lutemos, haverá sempre alguém que se insurja contra a Igreja, contra todos nós, mas fa-lo-emos até ao último suspiro. Porque como dizia no início, não vencemos todas as vezes que lutamos, mas jamais venceremos se estivermos de braços cruzados à espera que alguém faça.

Em tanta coisa na nossa vida somos levados a desistir só pela força do desânimo provocado pelas poucas hipóteses que temos de ser bem sucedidos. Pelas inúmeras palavras de outros que nos desencantam e que nos abalam a convicção.
É difícil, para alguém que já tem uma história escrita ao longo de vários por um mesmo caminho, chegar àquele momento da vida em que lhe são apresentadas alternativas àquilo que conhece. Fica-se confuso e desnorte leva a que se decida pelo único que conhece com medo da insegurança, risco ou até instabilidade que lhe possam trazer quaisquer outros caminhos.

Os nossos pais foram destemidos, “por mares nunca dantes navegados”, descobrir terras além-mar que apenas eram faladas em histórias de encantar e levaram com eles no peito o coração de um povo que temia não mais os ver. Levaram aquele espírito lusitano de aventura e conquista, mas levaram, à sua frente a Cruz de Cristo. Levaram a doutrina que outrora havia fundado um País, que havia de fundar um Continente e que haveria de se espalhar pelo mundo. Não apenas descobridores, mas missionários. Não só conquistadores, mas também evangelizadores.

Hoje não há mar para desafiar nem terra a descobrir, mas há muitos corações a conquistar, muitas mentes a converter, muitos hábitos a transformar.
Não se admite que num tempo como este, de miséria e de tristeza, numa era em que imperam as tecnologias sobre o afecto, em que as pessoas comunicam com o mundo através da internet e não se dão ao prazer de estar juntas com alguém por uma ou duas horas, que não sobressaia ainda mais a mensagem de amor e caridade que Jesus nos deixou, que S. Paulo levou a todo o lado e que hoje Bento XVI nos trouxe em brandas palavras e suaves gestos.
Da sua boa não se ouviram palavras exigentes, apenas aquilo que é o mínimo que um Cristão deve fazer para sentir Cristo na sua vida.
Não veio em campanha nem sequer para ser aclamado. Timidamente apresenta-se como alguém que, sozinho no meio da multidão, procura o afecto de todos. Veio para nos lembrar os tempos de catequese, os primeiros ensinamentos que nos foram transmitidos quando primeiramente conhecemos Jesus.
É necessário, mais do que nunca, que cerremos fileiras em torno dos valores que nos unem e que sejamos Igreja, com tudo o que isso significa, vivendo de forma apaixonada e dedicada e fazendo uso da força que o Espírito Santo nos dá. Umas vezes venceremos, outras não… mas se nada fizermos, de certeza que nada conseguiremos.

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