Deixai que os mortos sepultem os seus mortos

No passado Domingo comemorou-se o Dia dos Fiéis Defuntos.
Como disse o D. António várias vezes durante o dia: «é um dia de recolhimento» e de romaria ao local onde depositámos os corpos dos nossos antepassados... os corpos, porque as suas almas encomendámo-las a Deus no dia em que nos despedimos solenemente...
Neste dia, recordei também o momento mais marcante deste ano: o funeral do D. Manuel de Almeida Trindade.
Não tive a honra de privar com ele, mas os relatos sobre a sua pessoa foram sempre apaixonantes. Curiosamente, a única vez que estive mais perto dele foi para o acompanhar à sua última morada.
Mas o que me marcou neste dia foi a imagem que tive: os bispos reuniram-se para sepultar "um dos deles"! Estava naqueles bispos representada toda a família dos bispos de todo o mundo que choravam a sua perda. Não era um padre entre muitos, um leigo entre tantos era um Bispo!
Foi tal a demonstração de carinho que todos quiseram dar, foi de tal ordem abundante a quantidade de relatos sobre a vida de D. Manuel e da sua importância na vida da Igreja e principalmente na sua vida pós-Concílio que, fiquei com a certeza de que D. Manuel verdadeiramente bebeu o cálice do Senhor e que da Cidade Santa, da nova Jerusalém reza para que Deus revista de justiça os nossos sacerdotes para que nós, os seus fiéis, exultemos de alegria e cantemos quando entrarmos no Seu santuário e prostrados a Seus pés contemplemos a Sua face!
É nesta certeza, e no seguimento das palavras que Jesus proferiu aos Seus apóstolos: "Deixai que os mortos sepultem os seus mortos", que acredito que, no dia em que levamos alguém à morada onde já repousam os seus antepassados, se abre uma porta entre o céu e a terra e podemos senti-los mais próximos, ainda que apenas por instantes. Porque aqueles que juntaram as suas vozes às dos anjos para louvar o Senhor encaminham-se para a porta do santuário do Altíssimo para receber aqueles que lhes entregamos e levá-los diante do trono de Deus e do Cordeiro.
Nesta fiél esperança, a visita aos cemitérios deixou para mim de ser um profundo pesar pela perda de entes queridos mas um espaço de contemplação daqueles que viveram a sua derradeira Páscoa e se juntaram finalmente ao banquete das núpcias do Cordeiro. Com eles e para eles rezamos e contemplamos as lindíssimas salmodias que acompanham o ritual das Exéquias. A certeza de que Deus nos defende de todo o mal e que não nos salva pela grandeza das nossas obras mas pela imensidão da sua misericórdia.

Comentários

Anónimo disse…
Dias para reflectir, sem dúvida... como convicções e crenças se entrelaçam com o constatar da fragilidade e da efemeridade... mas como a Eternidade se revela, simplesmente, de modo absoluto... um deleite doce em algo que não acaba mais; um flutuar, uma dança suspensa...
O calor e o aconchego do Abraço supremo...*
[bom continuar a ler-te...bjinho*

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