O regresso de alguém que nunca conseguiu partir...

Estava a recordar fragmentos da minha história... a reler mensagens antigas que escrevi aqui... a apagar algumas que não faz sentido continuarem a marcar a minha história e eis que encontro um post que fiz em Abril de 2006. Logo após as festas da Páscoa.
Nessa época, a minha esperança andava pelas ruas da amargura, a minha fé precisava de quarentena e as minhas forças estavam a chegar ao fim.
A alegria que outrora motivava todos os meus esforços em prol da música litúrgica, no apoio à participação dos jovens nas Eucaristias, ou em qualquer outra necessidade da minha paróquia, estava a esvair-se... Sem que desse conta, já não era Deus que actuava em mim, já não era a fé que me movia.
Achava que precisava partir, soltar as amarras e tentar redescobrir os sentimentos originais, a força pura que outrora me tinha apaixonado por Jesus Cristo e pela sua Igreja.
Mas realmente é quando somos fracos que somos fortes e basta-nos a graça de Deus. Efectivamente tive de me afastar um pouquinho, como quem vem à superfície da água respirar para voltar a mergulhar ainda com mais força.
Mas foi na força, no carinho de alguns senhores padres que reencontrei o meu caminho. Eles, cada um a seu tempo, intervieram no mais intimo de mim. Com a sua liturgia pura e sem reservas despoletaram em mim forças inacreditáveis. Aos poucos senti crescer em mim uma energia sem limites. Um fogo pastoral completamente destravado e selvagem apoderava-se de mim à medida que exigiam que me superasse, que me envolvesse, que devolvesse à solenidade a sua maior graça.
E foi no Verão de 2007 que senti que era irreversível. Estava consumada a minha conversão. O que em tempos era um rígido cumprimento de requisitos essenciais ao excelente funcionamento da música na liturgia passou a ser uma apaixonada e desmedida vontade de usar de todos os meios para revolucionar, para contagiar, para passar uma mensagem de esperança ao Povo de Deus. Ainda me sinto capaz de trabalhar anos e mais anos e quem sabe toda a minha vida, se Deus assim quiser, na consolidação desta convicção de que cantar a Deus com arte é maravilhoso, mas cantar-lhe com toda a nossa alma é uma experiência de tal ordem contagiante que pode derrubar cadeias, prisões, aproximar comunidades, incendiar corações.
Em Setembro desse ano, iniciei um trabalho mais exaustivo com a minha assembleia Dominical e o próprio alterar de indumentária foi motivo de escândalo para os que me acompanhavam nessa Eucaristia. A eles me entreguei de corpo e alma e só lamento todos os esforços que não empreguei e a energia que me sobrou.
Desde então este amor não parou de crescer, o fogo não abrandou e nem as tribulações nem os inúmeros obstáculos foram capazes de tirar do meu rosto o sorriso de criança, foram capazes de me obrigar a andar triste ou cansado. Simplesmente o amor de Deus e o exemplo de Jesus Cristo têm sido o alimento e a motivação necessários para exigir sempre cada vez mais de mim e pedir apenas um pouco mais aos outros. O resto é obra do Espírito Santo que sopra no meu peito todas as bençãos que preciso para levar a cabo a missão que Deus me confiou.
Para os outros... talvez até mesmo para Deus, eu nunca cheguei a partir... nunca cheguei a afastar-me ou a deixar de pertencer. Mas sinto que passei por vales tenebrosos e montanhas escarpadas, mas que do outro lado encontrei o caminho de volta e revigorado retomei o projecto que Deus desenhou para mim e para aqueles a quem me confiou.
Assim Seja!

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